Queridos netos,
"A Vó não sabe brincar com vocês, porque só sei brincar de passado e vocês só sabem brincar de futuro.
E ainda estarei brincando de recordação quando vocês começarem a brincar de esperança.
Mas antes que eu me torne apenas um retrato na parede, uma referência dos meus entes queridos ou até uma lágrima de minha filha, quero-lhes dizer uma coisa que considero muito importante para os seus momentos de dúvida.
Porque eles ocorrerão e todos serão preciosos.
Quero-lhes dizer, queridos netos, o que vale a pena:
- Vale a pena crescer e estudar.
- Vale a pena conhecer pessoas, ter namorados e namoradas, sofrer ingratidões, chorar algumas decepções e - apesar de tudo isto (ou por causa de tudo isto) - ir renovando todos os dias sua fé na bondade essencial da criatura humana e o seu deslumbramento diante da vida.
- Vale a pena verificar que não há trabalho que não traga recompensa, que não há livro que não traga ensinamento, que os amigos têm mais para dar que os inimigos para tirar, que, se formos bons observadores, aprenderemos tanto com a obra do sábio quanto a vida do ignorante.
- Vale a pena ver que toda a amargura nos deixa reflexão, toda tristeza nos deixa a experiência e toda alegria nos enche a alma de paz.
- Vale a pena casar e ter filhos. Filhos que nos escravizam com seu amor e nos concedem a felicidade de tê-los junto a nós e vê-los crescer. Filhos que, ao crescerem um pouco, já discutem connosco, acham que sabem bem mais que nós ( e às vezes sabem mesmo) e nós aprendemos com eles.
-Vale a pena viver estes assombrosos tempos modernos em que os milagres acontecem ao virar de um botão, em que se pode telefonar da terra para a lua, lançar sondas espaciais, máquinas pensantes, à fronteira de outros mundos. E descobrir que toda essa maravilha tecnológica não consegue, entretanto, atrasar ou adiantar a chegada da primavera.
- Vale a pena viver, mesmo com todas as limitações a que o ser humano está sujeito, quando lembramos que o surdo vê a luz do sol, que o cego ouve a música das coisas, que o mendigo sonha com as estrelas, que não precisamos de todos os sentidos para participar do esplendor da criação.
- Vale a pena mesmo sabendo que vocês verão coisas que eu nunca vi, assim como vejo coisas que meus pais não viram, e meus pais viram coisas que meus avós não viram.
- Vale a pena, certamente, o saber acumulado dos cientistas e especialistas que revelarão coisas que a mim não foram reveladas. Pode ser que vocês conheçam seres vindos de outros planetas, o que para mim é teoria e especulação, assim como a televisão e outras invenções foram teoria e especulação para meus avós já falecidos.
- Vale a pena, mesmo quando vocês descobrirem que tudo isso que estou mencionando é de pouca valia, porque a teoria não substitui a prática e cada um tem de aprender por si mesmo que o fogo queima, que o vinagre amarga, que o espinho fere e que o pessimismo não resolve rigorosamente nada.
- Vale a pena até mesmo envelhecer como eu e ter netos como vocês, que me devolveram a infância e a juventude.
- Vale a pena mesmo que eu parta e suas lembranças de mim se tornem vagas. Mas quando outros disserem coisas boas de seus avós, espero que vocês possam dizer de mim simplesmente isto:
- Minha avó foi aquela que me disse que valia a pena....E não é que ela tinha razão?"
"Texto recebido via Internet, s/autoria"
In : Blog da 3ª Idade
5.4.08
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